O Cozinheiro do Rei D. João VI

HÉLIO LOUREIRO EVOCA OLHÃO DA RESTAURAÇÃO


Hélio Loureiro é por demais conhecido do público português. Responsável pela alimentação da selecção portuguesa de futebol, é um dos mais conceituados e prestigiados Chefes de Cozinha portugueses, autor de programas de televisão e de livros sobre gastronomia.
Recentemente, Hélio Loureiro estreou-se na literatura com um livro surpreendente onde a Gastronomia se mistura com a História. O livro proporciona uma leitura atractiva, com muitos cheiros, sabores, texturas, cores e sons, acrescidos das descrições muito visuais dos ambientes, nomeadamente das cozinhas. É um livro colorido e cheio de movimento.
As receitas apresentadas ao longo da narrativa envolvem o leitor, resultando numa mais-valia de interacção. Experimentando as receitas, vivenciamos a época retratada.



A trama, contada na primeira pessoa, é simples, sem ser simplista. As ambições pessoais de António do Vale das Rosas são goradas por intrigas políticas em nome de uma nação dividida, que o leva a associar-se a um crime que desagua em vingança.
Não fez jus ao provérbio de que é melhor deitar-se com penas do que acordar com remorsos. A personagem do cozinheiro levado à traição, resgata no suicídio/assassínio a lealdade jurada ao seu rei.
No contexto das invasões francesas, a ida da corte para o Brasil desencadeou um conjunto de reacções políticas e sociais, descritas com vivacidade por Hélio Loureiro.
Olhão é referenciada na narrativa pela boca do Príncipe Regente D. João VI num diálogo com António Vale das Rosas:

«— Está melhor. Depois quem faria os meus pães de presunto, as minhas empadas de perdiz, a minha galinha corada, os meus nacos de carne rosada e os meus sumos de fruta ... ah! Em Lisboa não haverá desta fruta — um suspiro saiu forte daquele homem fraquejado pela sorte -, mas haverá laranjas de Setúbal e do Algarve, daquele Algarve por onde começou a luta contra o Corso. Lembras-te quando chegou aquela embarcação de marinheiros de Olhão?
- Sim, Majestade. O barco Bom Sucesso que largou em Julho — dizia eu maquinalmente, recordando aquele episódio que me tinha comovido pela coragem daquelas almas que percorreram tantos perigos para dizer que lutavam pelo rei e pelo reino. Sim, era preciso voltar, o povo merecia que D. João voltasse para o seu reino…»

Um livro a não perder pela sua actualidade, já que se enquadra nas presentes comemorações do Bicentenário da sublevação do povo olhanense contra os invasores franceses.

Sugestão de leitura de Esperança Afonso

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